O casal formado pelo farmacêutico Diego Pereira, 37 anos, e Ana Paula Lima, 27, foi protagonista de uma história de amor no Hospital Ophir Loyola, em Belém. Casados há três anos, eles não imaginavam que passariam por uma situação delicada, Diego foi diagnosticado com doença renal crônica (DRC), que causa a perda progressiva e irreversível da função dos rins. Em fase inicial, a DRC não apresenta sintomas e pode ser tratada, porém o agravamento pode levar a pessoa a necessitar de diálise e até mesmo de um transplante. Mas ele não precisou esperar na fila, encontrou na esposa a doadora para ter um recomeço.
Em 2016, Diego apresentou urina escassa e sanguinolenta, mas não deu atenção necessária, pensou se tratar de falta de líquido. A princípio, não imaginou ter uma doença renal grave, mas algo que logo iria passar. “Após quatro anos, os sintomas se agravaram, as pernas incharam bastante devido à retenção de líquidos, desta vez imaginávamos ser problema de má circulação. Os exames nada atestaram, contudo após três dias, não conseguia me alimentar. Refiz os exames em outro laboratório e estava tudo alterado, imediatamente iniciei a hemodiálise", contou.
Após três meses de uma rotina de tratamento, ligado a uma máquina, o farmacêutico e a esposa deram início ao processo para dar andamento ao transplante de rim. Depois de uma série de exames, a surpresa veio: um percentual de compatibilidade alto entre eles, como se fossem primos, apesar de não terem grau de parentesco. “Nós ficamos muito felizes com a compatibilidade, a minha mulher sempre esteve ao meu lado, nunca me deixou desistir. Mas a cirurgia teve que esperar mais um ano, pois ela ficou grávida do nosso filho”, explicou Diego.
De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o número de pacientes com doença renal crônica avançada no Brasil é crescente, sendo que atualmente mais de 150 mil pacientes realizam diálise no país. Diante dessa realidade, Ana Paula só desejava tirar o marido da cadeira de hemodiálise, isso a motivou a realizar os testes de compatibilidade. Após o período do puerpério de Ana Paula, o casal voltou a realizar os exames para o pré-operatório. No dia 1º de dezembro, Diego recebeu o rim da esposa. Ana já recebeu alta e se recupera em casa, porém ele continua em recuperação no hospital.
“Quando o resultado saiu e a porcentagem foi de mais de 80% compatível com o dele, a minha alegria foi inexplicável. Só sabe o sofrimento quem passa por isso; eu, meu filho, e nossos pais sofremos muito junto a ele. Hoje, o Diego não está 100% curado, mas proporcionar uma melhor qualidade de vida para a pessoa que eu amo, não tem nada igual. Além disso, o hospital deu toda a assistência para nós, fomos e somos muito bem tratados”, ressaltou Ana Paula Lima.
O transplante renal é uma cirurgia em que o paciente recebe o órgão de um doador vivo ou falecido, uma opção de tratamento para quem sofre com a doença renal crônica. O diagnóstico é realizado com a avaliação dos sinais e sintomas que o paciente relata, como inchaço, aumento da pressão, anemia, cansaço extremo e déficit de crescimento em crianças. Com base nisso, o especialista pede os exames de urina e de sangue, exames de imagem, como ultrassom e tomografia computadorizada.
Em Belém, o Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em transplantes na região Norte, realizou 715 transplantes renais desde a inauguração do serviço em 1999 até novembro deste ano. Em 2022, foram realizados 16 transplantes renais na instituição. O procedimento garante mais qualidade de vida para quem perdeu a função renal e necessita de uma máquina de hemodiálise para viver. O tempo e a frequência das sessões de diálise podem variar de acordo com a gravidade do comprometimento renal, podem ser indicadas sessões de 4 horas, 3 a 4 vezes por semana.
Segundo o urologista do HOL, Ricardo Tuma, o doador de rins pode estar vivo ou falecido. “Os doadores de rim vivos precisam ser parentes do receptor até o quarto grau ou então quando não é parente do mesmo sangue, no caso de cônjuge, o marido doa para a esposa e vice e versa, não tem problema. Caso não tenha nenhum parentesco, é necessário realizar o procedimento através de ação judicial”, explicou o médico.
O doador falecido é aquele que tem uma morte encefálica, o que ocorre normalmente em decorrência de traumas ou doenças neurológicas graves. Há casos em que o falecimento decorre de parada cardiorrespiratória. Para receber o órgão, é necessário estar inscrito na lista única de receptores de rim, gerenciada pela Central Estadual de Transplante (CET) da Sespa. Os critérios de seleção do receptor são a compatibilidade com o doador e o tempo de espera em lista. Além do rim, também podem ser doados em vida parte do fígado ou da medula óssea pode ser feita em vida.
“Muitas vezes o indivíduo expressa o desejo de ser doador de órgãos em vida e a família acata. Vários exames são realizados para comprovar que o doador apresenta rins com bom funcionamento e saudáveis e não possua nenhuma doença que possa ser transmitida ao receptor”, enfatizou Ricardo Tuma.
Segundo o especialista, após a realização do procedimento, todo cuidado é pouco, principalmente para pacientes diabéticos e hipertensos, pois se não houver e não seguir as orientações, o rim que ele transplantou vai perder a sua função novamente. “Após alguns meses, liberamos o paciente para realizar atividades físicas de baixo impacto, como caminhadas e natação para poder voltar a ter uma vida ativa normal”, concluiu Tuma.
(Agência Pará / Texto de Viviane Nogueira / Ascom Ophir Loyola
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